domingo, 17 de junho de 2012

Ex Jardim


Eles eram um para o outro uma espécie de jardim, cheio de flores coloridas e borboletas azuis. Ali se plantava toda a esperança de um futuro bom, de uma vida tranqüila partilhada a dois. Era ali que se colhiam os melhores beijos, as rosas mais macias da estação, os sorrisos ofertados eram luzes que aqueciam tudo o que plantavam e os passarinhos sorriam junto em consentimento do quanto àquilo era bom. Ela era flor, era cuidada e nenhuma outra mão poderia tocá-la. Por muito tempo foram regados com os sentimentos mais nobres que se pode existir, era um jardim cheio de vida, tudo era festa e ele, o cravo rei.
Mas um dia veio tempestade, vento forte que carrega tudo, veio pestes, veio pragas, ervas daninhas que se infiltraram. A grama ficou seca, o céu perdeu a cor, o cravo que amava a flor, deixou de ama-la. A flor que amava o cravo pedia pra Deus pra aquilo tudo acabar. E acabou. Sem jardim, sem borboletas, sem cravo, sem flor, só um sentimento restou da tristeza que levou tudo, menos o amor.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Príncipe desencantado

Era uma vez... numa terra muito distante...uma princesa linda, independente e cheia de auto-estima.
Ela se deparou com uma rã enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo era relaxante e ecológico...
Então, a rã pulou para o seu colo e disse: linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito.
Uma bruxa má lançou-me um encanto e transformei-me nesta rã asquerosa.
Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo.
A tua mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavar as minhas roupas, criar os nossos filhos e seríamos felizes para sempre...
Naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria, pensando consigo mesma:
- Eu, hein?... nem morta!
(Luiz Fernando Veríssimo)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Celebre o amor

Dia dos namorados passou e até então não havia pensando em nada para postar sobre o assunto. Andei fazendo uma pesquisa sobre o tema e descobri que no Brasil, o dia dos enamorados é comemorado em 12 de junho desde 1949 após a brilhante idéia do publicitário João Dória que trouxe a novidade do exterior aos comerciantes da época. Junho era um mês “paradão” e com vendas baixas, daí decidiram comemorar a data nesse mês e escolheram a véspera de Santo Antônio - o santo casamenteiro - bem pensado. Desde então têm-se criado poesias, canções, filmes e novelas que remetem à sensação daquilo que une tão fortemente as pessoas: o amor.
Mário Quintana já dizia: “Tão bom morrer de amor e continuar vivendo” quando se gosta profundamente você morre para um monte de coisas fúteis, como baladas em que você enchia a cara, levava um monte de “fora” e voltava pra casa feito um cão arrependido. Daí você decide abrir mão daqueles seus “rolinhos” que te ligavam e te faziam se sentir menos vazio; de repente, deixa os amigos um pouco de lado, passa a recusar convites irrecusáveis e no mais inconsciente intuito acaba criando vinculo afetivo, o pré sentimento do amor. Que lindo! Você está apaixonado, então sente vontade de se doar sem reservas ou cobrança alguma pelo mais puro prazer, e é isso que o amor proporciona: a entrega, como se estivesse com o mais seguro de todos os paraquedas, você sente vontade de se jogar literalmente só  para sentir aquele friozinho na barriga.
Sabe quando “o outro” é o seu primeiro e último pensamento do dia? E como se não bastasse as 24 horas do dia pensando nela, você também sonha, acorda totalmente bobo, anestesiado e meio esquecido, porém com plena convicção de que se pudesse escolher não acordaria nunca, amar também tem dessas coisas, às vezes você não é você, solta o verbo e diz tudo o que sente, porém o “louco” que mora aí dentro não sai apenas pela garganta, irradia pelos olhos, sai pelo suor quando se treme as mãos e é aí que entra aquela sensação do friozinho no estomago, a borboleta que bate asas dentro de você.
O amor não tem dia e nem hora pra acontecer, sua comemoração geralmente ocorre no dia 12 de junho e ele realmente merece um dia especial para ser comemorado, porque sua demonstração pode ser explicita e despreocupada. As vésperas do grande dia os shoppings e lojas ficam super lotados, as propagandas na TV anunciam excelentes preços com brindes e descontos para os amados, as rádios fazem promoções apaixonantes com direito a flores e ingressos para o cinema, tudo conspira para que esse dia se torne tão perfeito quanto o próprio amor. Nas ruas, declarações inesperadas e aquela “melação” que para alguns enjoa e é clichê, mas não, é preciso ver além das demonstrações exageradas, afinal de contas por trás de tudo isso existe uma ligação maior, um motivo peculiar e um significado que só quem está com aquele brilho nos olhos consegue ver. Muitas vezes é possível ver amor onde não tem, como no formato de um tomate vermelho, numa nuvem com formas de um cúpido com flecha e na sopa que quando junta os legumes forma um coração. 
Os solteiros que se mordam, mas é inevitável não se incomodar ou se apaixonar no dia em que o amor é tão comemorado, seja com palavras, presentes personalizados, mensagem ao vivo (essa coisa meio breguinha) seja com pedidos de namoro, noivado e casamento, pensar no amor é pensar em festa, com direito a champanhe e fogos de artifício dos tipos naturais, daqueles que saem de dentro do peito, parece até virado do ano, a contagem regressiva para estar perto de quem se ama, uma espécie de abandono daquilo que é velho para o resgate de um amor novinho em folha.